Desenvolvimento tecnológico e mudanças climáticas: o papel da IA
A inteligência artificial (IA) está transformando rapidamente a forma como trabalhamos, vivemos e enfrentamos os desafios da sociedade atual. Já temos bons exemplos de como ela tem sido aplicada com sucesso para melhorar a qualidade da saúde, otimizar processos de negócios e a gestão de recursos, além de reduzir desperdícios na produção.
Esta é a era dos modelos de IA, que bem treinados, podem ser aliados poderosos para lidarmos com as mudanças climáticas, minimizando emissões poluentes, reduzindo desperdícios e diminuindo o impacto ambiental negativo.
Assim, a inteligência artificial pode ajudar pessoas e empresas a consumir energia de maneira mais inteligente e a reduzir as emissões de gases de efeito estufa, atuando ativamente nas ações contra as mudanças climáticas.
A crise climática é, sem dúvida, um dos maiores desafios do nosso tempo, tendo um impacto significativo em nossas vidas. O aquecimento global está causando alterações nas condições climáticas, como aumento das temperaturas, tempestades cada vez mais intensas ou secas severas. Não se trata apenas de mudanças climáticas, essas mudanças são uma ameaça séria à sobrevivência de várias espécies de animais e plantas – pense, por exemplo, na elevação do nível do mar que, destrói habitats naturais inteiros e reduz a biodiversidade.
Existem inúmeros fatores sociais, econômicos e políticos que podem ter impactos negativos e significativos para o meio ambiente, como migrações em massa e conflitos por falta de comida e água, o empobrecimento de comunidades vulneráveis em países em desenvolvimento, aumento da desigualdade entre países ricos e pobres, a intensificação das desigualdades sociais, a propagação de novas doenças diretamente relacionadas à poluição do ar (especialmente respiratórias e cardiovasculares) e a perda de mão de obra em setores como agricultura e pesca, os mais afetados pelas mudanças climáticas.
É hora de agir com urgência para evitar danos irreversíveis, preservando o equilíbrio do planeta e garantindo um futuro sustentável para as próximas gerações. Para cumprir essa missão essencial para a humanidade, é fundamental aproveitar o poder das novas tecnologias, como a inteligência artificial, para frear e mitigar as mudanças climáticas, trilhando o caminho rumo à sustentabilidade ambiental.
Como a inteligência artificial pode ajudar a conter as mudanças climáticas?
De acordo com o State of Science Index 2023, pesquisa anual da 3M que avalia a percepção da ciência em nível global, a maioria dos entrevistados em 17 países envolvidos na pesquisa (EUA, Canadá, México, Brasil, Reino Unido, França, Alemanha, Espanha, Tailândia, Taiwan, Itália, Índia, China, Coreia do Sul, Japão, Hong Kong e Austrália) demonstram confiança na ciência e tecnologia e acreditam no grande potencial da IA para construir um futuro mais sustentável, gerando um impacto positivo no cotidiano.
Segundo análises da ONU, a inteligência artificial pode ajudar a reduzir o impacto ambiental e promover a sustentabilidade de várias formas. Vamos dar uma olhada nisso:
Previsão do tempo
De acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM), tecnologias baseadas em IA oferecem capacidades revolucionárias para processar grandes volumes de dados, extrair insights detalhados e aprimorar modelos preditivos. Isso aumenta a possibilidade de prever eventos climáticos extremos com mais precisão, permitindo que as autoridades adotem medidas de segurança antecipadas e minimizem os danos, salvando vidas e reduzindo perdas econômicas. O uso de dados mais precisos pode transformar o impacto que desastres naturais têm sobre pessoas e economias.
Um exemplo prático é o aplicativo MyAnga, que auxilia os pastores no Quênia a se prepararem para secas: disponibilizando, de forma rápida e fácil, dados de estações meteorológicas e satélites por meio de dispositivos móveis, permitindo que tomem as medidas necessárias, para gerenciar o rebanho e economizar tempo na busca por pastagens verdes.
Prevenção de desastres
Com eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, a IA pode ajudar comunidades ao redor do mundo a se prepararem melhor para desastres climáticos e reduzirem seus impactos. Ferramentas baseadas em IA identificam áreas de alto risco e auxiliam na elaboração de planos de resposta, tanto em âmbito local quanto nacional. Por exemplo, em áreas com risco de deslizamentos, a IA mapeia o território com detalhes, ajudando as autoridades a planejar e implementar medidas de desenvolvimento sustentável, reduzir riscos e garantir a segurança de pessoas e bens.
Segundo a OMM, que opera um programa de redução de riscos de desastres e sistemas de alerta precoce para países e agências humanitárias, a IA já vem desempenhando um papel impactante na precisão das previsões meteorológicas e na mitigação dos riscos de desastres. Além disso, ela é parte fundamental do projeto Early Warnings for All, que visa proteger todos os habitantes do planeta contra desastres climáticos por meio de sistemas de alerta precoce até o final de 2027.
Monitoramento da poluição
Mapeamentos de vulnerabilidade feitos com IA podem ajudar governos locais a tomar decisões para melhorar a saúde pública e a resiliência urbana. Além disso, essa tecnologia otimiza o planejamento urbano, o tráfego e a gestão de resíduos, tornando as cidades mais sustentáveis e agradáveis de se viver.
Neutralidade de carbono
A abordagem global para a neutralidade de carbono pode ser transformada pela IA, trazendo uma era de sustentabilidade inteligente em escala mundial, especialmente agora que é urgente encontrar soluções para conter (e prevenir) o aquecimento do planeta.
Para minimizar o impacto ambiental e maximizar a eficiência no consumo de recursos, os algoritmos de IA desempenham um papel fundamental na missão de alcançar a meta global de energia limpa e acessível para todos até 2030 (ODS 7), otimizando redes e fontes renováveis. Outra solução relevante é a manutenção preditiva com IA, que reduz o tempo de inatividade na produção de energia e, assim, diminui a pegada de carbono do planeta.
Moda rápida (fast fashion)
A moda é um setor com um histórico negativo em emissões de gases poluentes e impacto ambiental. É uma indústria global de US$ 2,4 trilhões que emprega cerca de 300 milhões de pessoas em sua cadeia de valor (muitas delas mulheres) e deve crescer ainda mais no futuro.
Segundo a Aliança da ONU para Moda Sustentável, dado seu tamanho e alcance global, práticas insustentáveis na indústria da moda têm um impacto profundo em indicadores de desenvolvimento social e ambiental. Sem mudanças significativas nos processos de produção e nos padrões de consumo, a situação vai piorar com o aumento da poluição, emissões e resíduos – elevando os custos sociais e ambientais do setor.
Nesse cenário, a inteligência artificial desempenha um papel essencial, por meio da inovação orientada pela IA para otimizar cadeias de suprimentos, reduzir desperdícios, monitorar o consumo de recursos, promover a transição para práticas mais verdes e implementar processos de manufatura sustentável, com maior uso de energias renováveis e reciclagem.
Comida rápida (fast food)
A agricultura, a pecuária e a indústria alimentícia são outros setores com alta emissão de gases de efeito estufa, responsáveis por 22% das emissões globais.
De grandes corporações a pequenos agricultores, todos enfrentam desafios impostos por eventos climáticos extremos, como tempestades intensas, escassez de água ou degradação do solo. A IA pode transformar esse cenário, auxiliando na otimização dos processos, redução de desperdícios e minimização do impacto ambiental nas cadeias de produção alimentícia.
Redes inteligentes e ferramentas impulsionadas por IA podem equilibrar a oferta e a demanda, facilitando a integração de sistemas de energia renovável e diminuindo a dependência de combustíveis fósseis. Isso será crucial para criar sistemas agroalimentares resilientes, eficientes e sustentáveis, adaptados aos desafios das mudanças climáticas.
Pegada de carbono da IA: os custos ambientais da inteligência artificial
Com o uso crescente da inteligência artificial, fica claro que essa tecnologia poderosa já está melhorando nossas vidas, aumentando a produtividade e ajudando a enfrentar os desafios mais urgentes da nossa era, como as mudanças climáticas. Mas também é importante considerar sua própria pegada de carbono.
O avanço da inteligência artificial (IA) é acompanhado por preocupações crescentes sobre seu impacto ambiental. Assim como qualquer tecnologia que demanda grandes quantidades de energia, a IA gera uma pegada de carbono significativa. Desde a enorme quantidade de dados para treinar os modelos até os recursos energéticos para operá-los, medir a pegada total da IA é complexo, no entanto, é inegável que esse processo tem um custo ambiental elevado.
Em primeiro lugar, estão os custos para a produção de hardware (dispositivos que possibilitam a IA, como computadores, smartphones, smartwatches, etc.), considerando que a extração e o processamento das matérias-primas geram poluição. Depois, quando o hardware está pronto, os desenvolvedores de software demandam um consumo considerável de energia para treinar os modelos de IA, o que resulta em maior impacto ambiental.
Por exemplo, em uma entrevista ao The Markup, o engenheiro de computação Shaolei Ren revelou que treinar o GPT-3 nos data centers de última geração da Microsoft nos EUA pode consumir 700 mil litros de água potável, suficiente para produzir 370 carros BMW ou 320 veículos elétricos Tesla. Se o treinamento fosse feito em data centers na Ásia, o consumo de água provavelmente triplicaria.
Considerando o uso dos consumidores – por exemplo, ao conversar com o software ChatGPT, estudos indicam que essa ferramenta consome cerca de 500 ml de água para gerar uma conversa curta, composta por 20 a 50 perguntas e respostas, dependendo de onde e quando o modelo é usado. Com a enorme base de usuários do ChatGPT no mundo, a pegada hídrica total pode ser gigantesca, e isso não é bom para a saúde do nosso planeta.